Mayer, um candidato com o “Benfica no Sangue”

Com certa graça, mas sobretudo por benfiquismo, recebi uma mensagem logo no dia seguinte às eleições autárquicas a dizer algo como “agora que já sabemos quem vai mandar nos concelhos e freguesias deste país, podemos passar ao que verdadeiramente interessa a nível nacional, ou seja, as eleições no Benfica”?
De facto, é conversa obrigatória em qualquer parte onde os benfiquistas passam ou se encontram, sempre com o mesmo mote, sejam adeptos ou adversários desportivos: “então quem vai ganhar as eleições”? As respostas variam, mas a importância do assunto é incontornável.
No entanto, infelizmente, as eleições do Benfica entraram recentemente por um caminho que não dignifica ninguém, sobretudo o próprio Benfica, a sofrer tratos de polé por insinuações a alguns candidatos porque alguém, pressurosamente, teve o trabalho de “meter lama na ventoinha”. Os Sócios e adeptos, esses, ficam confusos e envergonhados, ao sentir que esta campanha que se desejaria limpa e cordata entra por caminhos ínvios e ao estilo do “vale tudo”.
Também por isso, também porque a esmagadora maioria dos benfiquistas fica desagradada com estes caminhos que as eleições estão a levar, devo e tenho a obrigação de contribuir para elevar o nível da campanha até porque o passado e diversas contribuições que já dei a esta causa que me está “no sangue” me dão certas responsabilidades no universo benfiquista.
Conforme é do conhecimento geral declarei o meu apoio a Martim Mayer e estou orgulhoso por sentir ser a opção certa. Ser a favor de um, não significa ser contra quem quer que seja. Entendo que, em particular no Benfica, votar contra A ou B, é colocar estigmas a alguns benfiquistas. Acredito que, como em todas as Sociedades, alguns mereceriam, mas seria redutor e não vou por aí.
É indiscutível que ser Presidente do Benfica é uma cadeira por muitos almejada, mas em que as exigências profissionais e sociais do lugar deveriam cercear as ambições da maioria. Assim, a escolha a fazer pelos Sócios, em momento tão especial e difícil na vida do Benfica, sobretudo com tantos candidatos – uns a representar o passado das últimas duas décadas e os outros alternativas diferentes de futuro, deverá ser criteriosa e ponderada. Entre estes, a minha convicção pessoal diz-me que Martim Mayer, que conheci há escassos meses e surgiu com um programa claro e ambicioso, tem o perfil e reputação que o lugar exige.
O passado serve para Mayer como ponto de partida para apresentar as suas ideias, jamais querendo ajustar contas. Nos últimos 5 anos, a taxa de sucesso do futebol profissional masculino é de 15% (3 títulos em 20) e com isso justifica a contratação de um Diretor Geral como Andries Jonker para fazer todo um planeamento integrado desde a formação (que tem tido excelentes resultados), visando a retenção de talento como base de sustentação da equipa principal.
Nas modalidades profissionais ditas amadoras, Andebol, Basket, Hóquei, Futsal e Volei, os sucessos registados são de apenas 4 em 18 títulos, pese embora todo o esforço financeiro efetuado (Orçamento de cerca de 28 M€). Sem referir a realidade onerosa de existirem cerca de 600 casas e/ou quartos alugados para todos albergar, que deixam qualquer gestor “de cabelos em pé”. Muito terá Tiago Bianchi de fazer, muita imaginação terá de colocar em prática para conseguir uma gestão racional que seja vitoriosa (incluindo seguramente o lançamento de um Benfica Campus que Mayer prevê para minimizar custos).
O programa de Mayer tem ideias várias, umas inovadoras, outras que o bom-senso exige. Entre estas ou aquelas e só para citar algumas, o incremento do Estádio (nunca percebi como é que construído de raiz não o foi para um mínimo de 80 mil lugares, quando o antigo tinha 120 mil), com um investimento de uns 85 M €, claramente autossustentado do ponto de vista financeiro através da securitização proveniente da venda destes lugares adicionais. No Seixal, para além de campos de treino adicionais, um novo Estádio para libertar o principal e dotar o futebol feminino das condições que legitimamente exige. Do ponto de vista social, relevo (i) a importância da criação de um “Colégio Benfica”, em conjunto com uma entidade renomada, para apoiar a literacia dos jovens praticantes; e (ii) a ideia de ter uma “Casa dos Atletas”, para aqueles que, com mais de 65 anos, careçam de apoio social. Finalmente, como já acima referi, a necessidade de se construir um Benfica Campus para modalidades, legítimo anseio das mesmas, mas importante que a localização seja acessível aos adeptos. Por aqui se pode inferir a enorme importância da área de Património, a ser liderada por José Meneses e Castro que terá imenso trabalho pela frente.
Entre outros temas que muito preocupam os Sócios, a centralização de direitos, imposta por lei, carece de uma atenção muito especial, em particular porque nada se faz sozinho. Ou seja, Mayer sustenta a necessidade de se procurar, em termos de futebol profissional, uma parceria internacional que funcione como catalisadora do interesse no futebol português. Esta entidade ajudaria a Liga Profissional a investir nas infraestruturas dos diversos estádios deste país, uns quantos em estado acentuado de degradação e permitir catapultar o nosso futebolzinho para planos internacionais, dado que hoje o interesse é manifestamente reduzido fora das nossas fronteiras ou comunidades. De outra forma, os 3 grandes, sobretudo o Benfica, ficarão altamente penalizados nas suas receitas.
Outro tema interessante e fundamental tem a ver com a detenção do capital social da SAD. Hoje, quando muitos clubes têm investidores internacionais, alguns com maioria de capital, Mayer defende uma visão parecida com a que sempre defendi: cedência de capital da SAD a 2 entidades renomadas com 10% cada, nomeando alternativas possíveis (defendo 3, como o Bayern), mas com a maioria de capital a ficar sempre no Benfica.
Na área financeira, quem vier terá sempre de fazer uma racionalização de custos e Mayer tem a experiência (e João Frederico Franco) para acreditar que o pode fazer bem. Mas não chega olhar para os custos – a receita terá de ser incrementada, quer através do aumento da capacidade do Estádio quer com o desenvolvimento da marca Benfica, fundamental para renegociações com Sponsors, tanto a nível interno como e sobretudo a nível internacional. Este pelouro terá a espinhosa responsabilidade direta de José Bartolomé Duarte, que felizmente conta com tantos mercados potenciais para serem trabalhados e onde se insere a bem interessante ideia de criação de uma Fan Zone em Angola (Luanda) e Moçambique (Maputo).
A parte comercial terá imenso com que trabalhar. A relação com os diversos “Sponsors”, a relação com os Associados e com os “Corporate Seats”, o negociar do “naming” do Estádio, o desenvolvimento de produtos comercializáveis, serão, entre outros, desafios absolutamente relevantes que o Departamento Comercial terá de enfrentar, conjuntamente com a área de Marketing.
Sobre as Relações Institucionais, irá sempre predominar o trabalho a fazer com a Federação Portuguesa de Futebol onde ajudámos a eleger Pedro Proença (em detrimento de Nuno Lobo) e com a Liga Portuguesa de Futebol Profissional, FIFA e UEFA, sem contar com todo um mundo de entidades terceiras que a grandeza de um Clube como o Benfica exige. Nesta área, Mayer tendo em tudo a palavra estratégica e a representação institucional, terá e muito de contar com o trabalho de Catarina Valente Rodrigues.
Infelizmente, é incontornável reconhecer que a área jurídica do nosso Clube terá um trabalho imenso pela frente em função de tantos processos em que nos envolveram, diretamente ou indiretamente. Não auguro trabalho fácil a Miguel Olazabal de Almada.
Uma palavra final para as Casas do Benfica – baluarte do nosso Clube, pela capilaridade que assegura e o apoio que podem dar, inclusivamente nas deslocações das nossas diversas equipas em Portugal e no Estrangeiro e essa certeza da sua viabilização económica podem ter assegurada com Mayer. Pelouro de Rui Vilar, terá muito com que se entreter, muitas viagens a fazer para sentir o pulsar e necessidade das mesmas.
Escrevi muito, quiçá demais, mas o programa de Mayer para “Honrar o passado, liderar o futuro” é muito vasto e são tantos os temas de interesse que teria sempre de os mencionar. Porque acredito no seu programa e porque acredito na sua capacidade para erguer o Benfica ao patamar nacional e internacional que todos os benfiquistas desejam, aqui vos faço o convite e acreditem que não se arrependerão – votem Mayer, porque nesta lista todos temos “O Benfica no sangue”.
observador